Em teste, vacina protege contra dengue

Resultados preliminares dos testes de uma vacina contra a dengue mostraram que ela foi capaz de reduzir em 56% o número de casos da doença. Foi a cobertura mais alta já conseguida nos estudos para a criação de uma imunização contra o vírus.
Embora bem recebido por especialistas, o anúncio também foi acompanhado de um pedido de cautela por parte da comunidade médica. "É um começo, mas ainda não está bom. Uma vacina, para ter uma razão de ser, precisa ter uma cobertura mais alta do que esses 56%", avaliou Juvencio Furtado, ex-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor da Faculdade de Medicina do ABC. "A vacina do jeito que está é melhor do que nada? Sim, mas é preciso também avaliar outras questões, como os efeitos colaterais e outros aspectos da cobertura", completou o infectologista.
Poucos detalhes
A Sanofi Pasteur, responsável pela vacina, ainda não divulgou os resultados detalhados do estudo, realizado em crianças entre 2 e 14 anos da Ásia. Os números ainda não foram publicados em uma revista científica ou apresentados em um congresso da área, mas a empresa diz que fará isso em breve.
Em 2012, em um teste ainda mais preliminar na Tailândia, a vacina da Sanofi falhou na proteção contra o subtipo 2 da dengue. No novo estudo, que contou com mais pessoas e uma abrangência geográfica e genética maior, o laboratório ainda não informou se a vacina foi eficaz contra todos os subtipos da dengue.
A médica Lucia Bricks, diretora de Saúde Pública da Sanofi Brasil, diz que o problema no teste da Tailândia foi muito específico. "Era um estudo de fase 2B não desenhado para ver a efetividade", explicou ela, ressaltando que, naquele momento na Tailândia, houve um surto inesperado de dengue do tipo 2.
A falha contra um dos subtipos, segundo uma teoria epidemiológica, poderia levar a quadros mais graves. Isso aconteceria porque, se um indivíduo que já teve contato com o vírus pela imunização pegasse justamente a dengue do subtipo não protegido, haveria maiores chance de dengue hemorrágica. "É uma teoria que até agora nunca aconteceu. Não há qualquer comprovação científica. Além disso, temos muitas pessoas que já foram vacinadas e, até agora, nenhuma delas apresentou reações assim", diz a médica, que ressalta o monitoramento de organismos independentes.
Segundo Lucia, a vacina já atingiu seu objetivo principal, que era a proteção contra a doença. "Quando a gente avalia a proteção, tem de levar em conta a taxa de infecção das diferentes doenças. A dengue é de altíssima prevalência, concentrada num determinado período e que leva todo mundo para o hospital. Você conseguir reduzir isso em mais de 50% é muito bom", completa Lucia.
Os estudos sobre a eficácia da vacina, atualmente na fase 3, continuam. Ao todo, mais de 40 mil voluntários já participaram das diferentes etapas, sendo vários deles do Brasil.
De acordo com a Sanofi, ainda neste ano serão divulgados mais detalhes sobre os testes da vacina.

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